Não saberia precisar bem o momento em que me tornei leitora.
Acho que foi um processo lento, silencioso, despretensioso, porém preciso e
libertador. Lembro-me, porém, com clareza de quando esse processo se iniciou;
foi no final dos anos setenta, durante as férias de janeiro, em que fui passar
uns dias na cada de uma tia. Nesse tempo os pacotes de viagem não eram tão
comuns, como hoje, e os recessos escolares quase sempre eram pretexto para a
troca de crianças nas famílias, pois as tias recebiam os sobrinhos e os filhos
visitavam outras tias. Eu era uma criança acanhada e miúda, e que, para piorar,
não gostava de brincadeiras agitadas, como pega-pega, esconde-esconde, jogar
bola e pular corda; gostava mesmo era de ficar sentada sonhando acordada. Não
preciso nem dizer que meus primos logo se cansaram da minha companhia e
providenciaram férias mais divertidas, na casa de outros primos, deixando-me
sozinha na companhia de uma caixa de gibis velhos. A quantidade de revistinhas
era grande, mas muito maior foi a quantidade de amigos que elas me trouxeram:
toda a turma da Mônica, do Tio Patinhas, do Pato Donald e do Zé Carioca. A
partir daí, o encontro com outros gêneros foi acontecendo gradualmente e hoje,
depois de ter visto o mundo pelos olhos de Monteiro Lobato, Agatha Christie,
Guimarães Rosa e Tolkien, acredito que ler é, de fato, poder enxergar o mundo
através de novos olhares, que revelam realidades diferentes, algumas possíveis
e outras nem tanto, porém tudo cabível de significação humana, senão pela
lógica e verossimilhança, certamente pela emoção e liberdade imaginativa de
poder vivenciar experiências mil. A leitura, portanto, me possibilita partir do
encantamento rústico do sertão de Guimarães Rosa e pousar misteriosamente na
elegante Londres de Agatha Christie sem sair do lugar.
Denise Xavier
Leitura Apaixonante
Falar em experiências de leitura e escrita é falar
de vida, pois a leitura e escrita fazem parte da minha desde muito pequena e
falar dessa experiência deixa claro como o incentivo e o exemplo vivo são os
maiores formadores de leitores. Quando pequena, a minha alfabetização aconteceu
de forma natural, mas ao final da 1ª série primária, como assim era chamada, houve
uma festa; um marco para engrandecer o fato dos alunos da minha classe terem
passado por essa fase da aprendizagem. Todos os alunos reunidos com seus
familiares, chamados um a um no pátio, em solenidade, para receber um diploma
simbólico e muito carinhoso intitulado "EU JÁ SEI LER”, o qual tenho até
hoje. Dia inesquecível que foi seguido por incentivo de grandes professoras nas
séries seguintes. Porém, foi na 5ª série que um professor chamado Miguel fez a
diferença e me colocou no mundo das letras ao dizer que o livro é o melhor
companheiro que podemos ter na vida. Incentivava os alunos fazendo leituras de
obras interessantes e adaptadas para a nossa idade. Lembro-me que a primeira
leitura foi da obra Éramos Seis, da Série "Para gostar de ler" que
fazia adaptações de grandes obras para a linguagem juvenil. Juntamente com a
leitura, fizemos uma peça teatral que nos fez "absorver" a história
da obra e a partir daí, uma leitura nunca mais foi apenas uma leitura.
Debora Cristina Buoro
Leitura: prática significativa.
Não sei
precisar minha primeira experiência de leitura, pois, desde bebê em casa sempre
tivemos muito contato com livros e textos diversos. Minha mãe, antes de
casar-se, foi professora; e ela nos embalava e distraía contando-nos histórias
mágicas que saíam às vezes de seu conhecimento memorial, outras, de livros.
Lembro-me do "Almanaque do Pensamento" que meu pai algumas vezes
trazia para dividir conosco uma curiosidade, ou alguma descoberta científica.
As leituras aconteciam sempre à noite, após o jantar, pois não tínhamos TV, e
nós - 04 irmãos (3 meninas e 1 menino) nos emocionávamos, ora com medo,
ora com humor e às vezes com lágrimas, terminávamos nosso dia e íamos dormir e
sonhar com personagens e cenários das histórias, ou dos "causos"
narrados.
Assim foi
minha infância, e quando ingressei na primeira série já sabia ler e escrever
meu nome, de meus pais e irmãs e algumas palavras que ia escrevendo e
soletrando. Na quarta série (hoje quinto ano), a professora nos preparava para
o "exame de admissão", algo parecido com ENEM, mas para ingressar no
ginásio da escola pública, e nessa época aconteceu meu primeiro e marcante
contato com a literatura - foram pedidos no decorrer do ano duas leituras
significativas e importantes para enriquecimento vocabular: "O Pequeno
Príncipe" e "O Meu Pé de Laranja Lima". Li cada um duas
vezes, e me encantei.
A partir
da 5ª série as leituras eram obrigatórias para as provas, além de termos que
apresentar resumos e opiniões justificando sua indicação ou não a outros
possíveis leitores na turma. Assim, até a 7ª série eu tinha um repertório muito
rico, e uma lista enorme de leituras. Acredito que li todos da série "Para
Gostar de Ler", entre outros. Uma leitura marcante foi "Olhai os Lírios
do Campo", sofri, chorei e me identifiquei com o Genoca, nas gozações dos
colegas. Não que eu fosse para a escola com "as calças furadas no
fiofó", mas porque eu era a negra, pobre e canhota da turma. Quanta
desgraça para uma adolescente! Mas sobrevivi, e o Genoca me incentivou, serviu
de exemplo. Também me apaixonei por Augusto de "A Moreninha", e
odiei Fernando Seixas, de "Senhora". Com o passar dos anos, li muitos
romances, contos e crônicas, na escola, para trabalhos ou provas e na
graduação. Ainda sou apaixonada por histórias fantásticas, tanto que sempre
recomendo a meus alunos alguns títulos que li na adolescência e que são
imortais.
Cristina Vitória
Duque
Olá Denise, meu nome é Cristina Vitória, sou professora de Língua Portuguesa na rede estadual desde 2004. Amo literatura e outras leituras não literárias que além de simples passatempo, acrescentem conhecimento, emoção e diversão.
ResponderExcluirA delicadeza de seu depoimento é marcante e me trouxe também a gostosa lembrança de tempos passados embaixo de um pé de ameixa, lendo Agatha Christie, devorando cada capítulo.